terça-feira, 13 de julho de 2010

Armários e vassouras


Sou toda contradições. Costumo dizer que gosto de filmes que mesclam o elemento fantástico com o real, porém ainda não consegui assistir ao primeiro filme da triologia Senhor dos Anéis, tão fantástico é o filme.
Harry Potter, porém, gostei. Penso que me afeiçoei com o caráter puritano do protagonista, e adoro sua amizade eterna com Hermione Granger e Rony Weasley. Também gosto muito da maneira que a escritora, J. K. Rowling, explora o fantástico no livro, que virou filme. Algumas das possibilidades que a magia oferece transformam-se em situações da facilidade e humor interessantes. A vassoura varre a sujeira sozinha, o porta-retratos guarda o momento da fotografia em movimento, os cadarços do tênis se amarram sem que se ponha a mão nos sapatos.
Penso que tenho mesmo uma queda pelo fantástico. Gosto de enxergá-lo até onde não existe. Quando criança, sempre imaginei que o armário da sala de minha avó, cinza, embutido na parede, do teto até o chão, levava a um esconderijo nos fundos da casa.
Com frequência, me trancava dentro dele, enorme, e no escuro tão confortável, imaginava um túnel que me conduzia em segurança para meu refúgio oculto. Lá, eu me escondia dos primos nas brincadeiras de pega-pega, ou da avó, quando alguma safadeza falhava ao tentar ficar, como o esconderijo, oculta.
Até hoje, gosto de pensar que o armário era mesmo mágico. Além do esconderijo dos fundos, fui para milhares de lugares quando dentro do armário cinza. Visitei lugares desconhecidos, bolei planos, tive medo, criei coragem.
Entre outras coisas, procuro ainda, na minha vida diária, tão realista, e sem casa de vó, um lugar que, no escuro, me leve pra onde quero ir e que me revista de sentimentos que estejam me faltando. Enquanto não encontro, penso que já ficaria feliz com a vassoura independente, definitivamente.

5 comentários:

  1. Andreia: Lá do Mínimo Ajuste vi seu comentário, vim visitar sua Casa e com toda humildade, de uma aprendiz já estou a te seguir. Estou passeando por essa linda Casa "A room of my own" e estou me deliciando. E, se desejar, seja bem vinda na minha ainda neném Colcha de Retalhos. (Ontem eu assiti novamente Don Juan de Marco, um filme bem lá de trás. Interessante como há novos focos, novas havaliações, nova visão psicológica quando se reve um filme assim, mas que continua inteligente e nos passando uma interessante mensagem. Amei velo e reaprender... Só como colocação).
    Com amor e carinho,
    Sílvia
    http://www.silviacostardi.com/

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  2. Oi, Andréia.
    Este seu texto fez com que me lembrasse de coisas parecidas na infância, da necessidade da imaginação do mágico, do sobrenatural, do oculto. Daí se derivam as crenças, nesta necessidade humana de um lugar seguro, de um amparo, que é o que está por trás de todos estes desejos que você relata da sua infância e, claro, ainda de hoje. Trazemos parte da criança que fomos dentro de nós, em outra parte crescemos, mudamos e somos obrigados a encarar a vida e o desamparo de frente, descobrindo que o mágico é quimera.
    Vou lendo e já sou seu seguidor. Obrigado pela visita lá ao Empirismo Vernacular. Volte sempre e seja seguidora, também. Vai ser um prazer te ter por lá.
    Beijo grande,

    Ivan Bueno
    blog: Empirismo Vernacular
    www.eng-ivanbueno.blogspot.com

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  3. Texto gostoso!
    Com cheiro de infância...

    Identifiquei-me um pouco contigo.
    E indago:
    não pode a realidade
    ser um tanto fantástica? : )

    Beijo,
    Doce de Lira

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  4. Eu adorei essa casa!!!!!!
    Obrigada!!!

    Beijos,

    Maria Maria

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  5. que maravilhosa a nossa capacidade em se abstrair e ir bem longe... eu ficava sob a grande mesa de madeira com grandes pernas entalhadas, na casa da minha bisavó, me sentindo totalmente invisível e só escutando as conversas sobre a vida que eles falavam... que coisa boa!

    adorei seu texto, o modo sincero como escreve!
    parabéns!!

    abraço!

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