domingo, 19 de setembro de 2010

Exílio 2010


Ontem assisti mais uma vez ao Horário Eleitoral, e tive ainda mais certeza de uma idéia que me ronda o pensamento há alguns anos.
Sei que tudo acontece exatamente como deveria acontecer, mas penso que em uma coisa, fui acidentalmente confundida.
Olhando para os meus gostos, as minhas indignações, meus sonhos e desejos, me parece muito claro que eu devesse ter tido a minha juventude na década de 80, quando, na verdade, eu nascia.
Meus cantores preferidos são A-há, Duran Duran, Madonna, Cindy Lauper, Sting. Dos brasileiros, sou apaixonada por Elis, Caetano, Cássia Eller, Tom Jobim.
Acho o máximo pensar em ir para a boate com as amigas ao som de Girls just wanna have fun, todas de cabelos armados, calças saint-tropez e jaquetas cujo brilho se vê de longe.
Olho então para os meus atores favoritos. Nenhum a la Leonardo di Caprio – cara, jeito e idade de bebê - jamais integrou minha lista de prediletos. Richard Gere, Robert Redford, Tom Selleck, sempre foram as minhas grandes paixões. Atrizes preferidas? Meryl Streep, Shirley McLaine, Jane Fonda.
Os programas de TV também giraram sempre em torno dessa minha preferência. O seriado preferido é “Seinfeld”. O filme, "Sociedade dos Poetas Mortos", a arte, é, e sempre será Andy Warhol, dono de uma das frases das quais me lembro sempre: “Dizem que o tempo muda as coisas, mas é você quem tem de mudá-las”.
Para as minhas amizades acabo sempre escolhendo pessoas mais velhas do que eu, e assim também escolhe, quase sempre, meu coração, para se apaixonar e se afeiçoar.
Penso também na política, e é o que me indigna quando vejo nossa conduta nos dias de hoje. Há trinta anos, os artistas, antes exilados, estavam voltando a ter voz. As pessoas podendo escolher, podendo ser escolhidas, optando pelo grito, depois de anos silenciados pelas autoridades. Penso na esperança e na emoção que a década de 80 representou, politicamente falando.
Me parece que hoje nos falta uma ideologia. Me ponho a pensar que nosso conformismo transformou nossa vida em uma facilidade que não nos exige e nem nos permite pensar. Fico decepcionada ao ver nosso horário eleitoral escolher transmitir aspirantes a políticos que assumem não entender de política e nos convidam a integrar sua ignorância, votando neles.
Pensando na frase de Andy Warhol, penso no tempo. De fato não acho que o tempo alterará as circunstâncias que considero tão problemáticas no quadro da década atual. No que depender de mim, porem, estou aqui, eu, minha voz, independente do tempo, da época. Pensando na década de 80, confesso, mas propondo que saiamos do exílio, hoje.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ensinando sobre saudades


Gosto muito de pensar em professores dos quais nunca mais me esqueci. Ainda me relaciono muito bem com minha professora da quarta série, Dona Nanci.
Apavorada de medo, naquela época, de sua seriedade, hoje desfruto de longas conversas com ela, nas quais falo de mim, já que ela sempre quer saber de todas as mudanças, que, depois de quase quinze anos, são mesmo muitas, e ela fala do orgulho em ver como os alunos cresceram: em altura, em conquistas, em caráter.
No último sábado, me reuni com as primas que estão, por vezes longe, mas do lado de dentro, eternamente. Uma delas casada, morando distante, a outra mais perto, e como eu, com pouco tempo. Conversamos longa conversa. Falamos sobre o presente, lembramos - e rimos muito - do passado, pensamos o futuro.
Lembro-me que uma delas queria ser médica. Fez cursinho, morou longe, em Curitiba, plantou saudades, por fim tornou-se professora. A outra prima se inscreveu no vestibular para artes cênicas em Londrina. Perdeu a prova, estudou em Assis, tornou-se professora. Eu quis ser advogada. Gostei de literatura, escolhi descobrir o quanto gostava, me tornei professora.
Naquele sábado, éramos três professoras, confessando nossa saudade, professando nossas lembranças, revelando a falta que sentimos de um tempo em que vivemos umas para as outras, pelas outras.
Hoje, minhas primas fazem falta no meu dia-a-dia corrido, abarrotado de diários de classes, notas, faltas, e sei que tudo isso faz parte de seu cotidiano também.
Mas estas professoras, que ensinam aos seus alunos sobre tudo, sobre muito, sobre algo que vai infinitamente além da sala de aula, me ensinam, em momentos como o de sábado, sobre o companheirismo, sobre a identidade, sobre a amizade cúmplice e eterna.
Ensinam sobre a saudade. Ela existe, de fato.
Mas, sobretudo, ensinam sobre o prazer de saber que distância e falta de tempo representa pouco para quem tem reservado há muito tempo o afeto que temos umas pelas outras.