segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ensinando sobre saudades


Gosto muito de pensar em professores dos quais nunca mais me esqueci. Ainda me relaciono muito bem com minha professora da quarta série, Dona Nanci.
Apavorada de medo, naquela época, de sua seriedade, hoje desfruto de longas conversas com ela, nas quais falo de mim, já que ela sempre quer saber de todas as mudanças, que, depois de quase quinze anos, são mesmo muitas, e ela fala do orgulho em ver como os alunos cresceram: em altura, em conquistas, em caráter.
No último sábado, me reuni com as primas que estão, por vezes longe, mas do lado de dentro, eternamente. Uma delas casada, morando distante, a outra mais perto, e como eu, com pouco tempo. Conversamos longa conversa. Falamos sobre o presente, lembramos - e rimos muito - do passado, pensamos o futuro.
Lembro-me que uma delas queria ser médica. Fez cursinho, morou longe, em Curitiba, plantou saudades, por fim tornou-se professora. A outra prima se inscreveu no vestibular para artes cênicas em Londrina. Perdeu a prova, estudou em Assis, tornou-se professora. Eu quis ser advogada. Gostei de literatura, escolhi descobrir o quanto gostava, me tornei professora.
Naquele sábado, éramos três professoras, confessando nossa saudade, professando nossas lembranças, revelando a falta que sentimos de um tempo em que vivemos umas para as outras, pelas outras.
Hoje, minhas primas fazem falta no meu dia-a-dia corrido, abarrotado de diários de classes, notas, faltas, e sei que tudo isso faz parte de seu cotidiano também.
Mas estas professoras, que ensinam aos seus alunos sobre tudo, sobre muito, sobre algo que vai infinitamente além da sala de aula, me ensinam, em momentos como o de sábado, sobre o companheirismo, sobre a identidade, sobre a amizade cúmplice e eterna.
Ensinam sobre a saudade. Ela existe, de fato.
Mas, sobretudo, ensinam sobre o prazer de saber que distância e falta de tempo representa pouco para quem tem reservado há muito tempo o afeto que temos umas pelas outras.

2 comentários:

  1. Parabéns Andréia, belíssimo texto.
    Realmente é nos encontros e momentos como este que você relatou, com a maestria de sempre, que percebemos a importância de "viver os momentos", de "viver as pessoas" como elas realmente são, descobrindo e redescobrindo a importância do "outro" na formação de nossa personalidade, e de nossa vida cotidiana.
    Mesmo com a distância e o tempo já decorrido, as lembranças "daqueles tempos" jamais se apagam de nossa memória.

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  2. Obrigada pela sua visita e comentário!
    Tudo muito bonito por aqui também!

    Voltarei!
    Beijos

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