domingo, 20 de fevereiro de 2011

TPM ou paixão – ou os dois, e por que não?


Não sei se sou uma boa contadora de histórias. Não sei se sei ser engraçada ou não, se minhas ênfases são pertinentes ou não, não sei se sei.
Mas um dia desses, me propus a contar a um amigo, uma história que me aconteceu quando criança. É na verdade uma história sobre uma história:
Minha mãe, que me comprava muitos livros de contos de fada - que eu sempre amei ler - chegou em casa em um fim de tarde, com o livro “A sereiazinha”, da Coleção Contos de Andersen.
O livro era lindo, capa roxa, grande, e me atraiu instantaneamente. Ainda sem ler, comecei a folhear o presente, reparando nas ilustrações.
A sereia sentada na pedra, a sereia com os cabelos trançados, a sereia com a cauda em movimento pelas águas do oceano... a sereia, que sempre foi uma fantasia das meninas pequenas... Ainda me lembro que bastavam dois minutos na piscina do clube com as amigas para cruzarmos as pernas imitando uma cauda e sairmos nadando, imitando as sereias.
Continuei folheando o livro, até que me encontrei com a ilustração do príncipe.
O príncipe. Ahh, o príncipe, que decepção! As coxas eram extremamente grossas e o pescoço também. A cabeça, uma esquisitice: minúscula, láá no topo do pescoço.
O príncipe me pareceu feminino demais, e além de tudo, feio! Isso era inconcebível! Um príncipe feio!? Em nenhum outro livro de contos de fadas eu havia visto um príncipe feio! E fechei o livro.
Não li. Nunca mais. Até hoje, talvez uns 18 anos depois, ele continua morando na estante do escritório, fechado, guardando só pra ele a história de uma moça-peixe que foi condenada a viver embaixo da água com um príncipe quadrilzudo e de cabeça pequena.
A verdade é que, depois, levei aaaanoss aprendendo que os príncipes não eram necessariamente bonitos. Ou não eram necessariamente perfeitos. Era possível que eles tivessem um defeito ou outro...
Acontece que em um período curto de tempo, recentemente, fui obrigada a me esquecer de meu longo aprendizado sobre a realidade dos príncipes, e achei isso tão importante, que não pude deixar de compartilhar.
Meninas: existem, sim, príncipes perfeitos como os dos contos de fadas.
Eles são lindos, maravilhosos, gentis, atenciosos e nascidos para surpreender, todos os dias, pela manhã, pela tarde, pela noite, garotas como nós, leitoras de contos de fadas, justamente quando nossa crença nestas histórias maravilhosas estavam a esmaecer.
Sem saber se sou boa em contar histórias ou não, sem saber se esta crônica nasceu em da sensibilidade à flor da pele resultante da TPM ou se foi paixão, - ou os dois, e por que não? - uma coisa eu não deixo de contar, e recomendo que as meninas que encontrarem esses protagonistas dos contos de fadas, também não deixem:
Nunca deixe de contar, de lembrar o seu príncipe de que ele é especial, de que ele é único, de que ele é, de fato, um príncipe.
Eu não deixo!: “Já te disse hoje que você é um príncipe?”

Princípio da Contraditoriedade


Anteontem uma pessoa querida me deixou um recado no Orkut: Andréia, por que é que você não tem mais escrito no seu blog?
Curiosamente, não respondi. Até agora. Simplesmente porque não sei a razão de não ter mais escrito no blog.
Isso me leva a pensar no que nos desperta a vontade de escrever. Em algumas épocas não escrevemos porque estamos correndo demais e não há tempo para distrações. Em outras épocas, escrevemos porque estamos correndo demais, e precisamos de distrações.
Talvez precisemos de um fato que nos sobressalte, de um momento delicado que toque em nossas crenças, na nossa fé, ou talvez não precisemos de nada para escrever, porque o vazio pode ser tão simbólico quanto a plenitude.
Somos assim, incrivelmente complexos e contraditórios.
E por falar em complexidade, e em contrariedade, nesta semana assisti mais uma vez ao Curioso Caso de Benjamin Button. Ainda me lembro que há alguns anos, quando vi o trailer do filme, a chamada na voz impostada do narrador mexeu comigo: “A vida só pode ser entendida em retrospectiva. E só pode ser vivida olhando-se pra frente“.
Mais uma vez, nossos conflitos expostos. O passado preparando o futuro, o futuro apagando o passado. Os planos crescendo, deixando pra trás as velhas epopéias, as histórias já alinhavadas servindo de aprendizado para as próximas histórias.
Diego, querido, ainda não sei a razão de não estar escrevendo no blog. Mas se te consola, estou escrevendo hoje porque você me lembrou do quanto é bom poder transformar pensamentos em letras, com motivo, sem motivo.
Continuo assim, contraditória, pensando no futuro, esquecendo o passado, lembrando do passado, vibrando com o futuro, e, agora, escrevendo novamente.