sábado, 30 de outubro de 2010

Loucuras e sábados


Alguns, os que me conhecem melhor, sabem que meu dia preferido na semana é a sexta-feira.
Penso que gosto da sexta-feira porque é o dia que antecede o sábado, dia em que oficialmente não trabalho, descanso, passeio muito com os amigos.
Vendo por este lado, acho que meu dia favorito é o sábado, mas prefiro gostar da véspera. Prefiro gostar do dia da espera, até porque se eu deixasse pra gostar do sábado no sábado, ele passaria muito rápido.Curto o sábado desde a sexta, e assim o meu sábado fica com 48 horas.
Sim, alguns, os que me conhecem melhor, sabem que tenho as minhas loucuras. O que me conforta é que todos as tem.
Há quem beba refrigerante no primeiro semestre e cerveja no segundo, há quem tenha autorização pra pilotar balão, há quem estude e trabalhe quando tem autorização pra descansar.
Acontece que hoje, sábado, amanheceu chovendo. Depois de uma semana de muito calor, que anunciava um sábado ensolarado e lotado de planos, a chuva desabou, com vento, com frio.
Obrigada a ficar em casa, vendo, lá fora, a água escorrendo pelas folhas das plantas, ouvindo os pingos batendo na ferragem da janela, faço do meu sábado um mero dia de semana: lotado de estudo e trabalho.
Lá se vai meu dia de passeio, de folga, e me lembro novamente de gente que estuda e lê, quando poderia descansar e pensar em tudo, menos trabalho. Penso que só me falta aprender a pilotar balão, que acho mais possível do que abrir mão do meu vício por refrigerante durante seis meses.
Se a chuva resolver abandonar o fim de semana – coisa que acho quase impossível -, que o sábado venha acompanhado de uma noite deliciosa, regada a cerveja – permitida no segundo semestre.
Agora, se a chuva decidir que veio pra ficar - que eu acho que veio - nos restam as leituras de livros, de revistas, os filmes românticos, os documentários sobre macacos e índios na TV Senado.
Seja como for, a todos nós, um ótimo sábado.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Perdas e Ganhos


Terça-feira à noite, fim de feriado.
Ainda me lembro que, no começo do ano, me organizando para o semestre letivo, me atentei aos feriados. Calculei, contei as aulas, pensei nas perdas de matérias para os alunos, e este feriado, como os outros que estavam assim, lááááá no que chamamos de fim de ano, me pareceu totalmente distante, me pareceu que não chegaria. E agora, enquanto escrevo este texto, só consigo pensar que o feriado já acabou.
Este feriado, que parecia distante, e que já teve começo, meio e fim, foi uma data marcada por emoções fortes. Um amigo querido, daqueles que a gente gosta de encontrar, porque não tem problemas pra contar, apenas boas notícias - abarrotadas de um bom-humor invejável - se foi, traído pelas estradas, traído pelo carro, ele e outro amigo.
Foi um feriado de perdas, de vazio, experimentado por pais, mães, irmãos, colegas, e amigos, que são, por vezes, como irmãos.
O Pedro, meu amigo, desta vez, não me trouxe boas notícias, e experimentei de pouco humor. Esta terça-feira me trouxe um encontro muito diferente dos outros que tive com ele.
No fim da noite, após sair um pouco, desfrutar de boa companhia, me esquecer das perdas por alguns instantes, cheguei em casa em tempo de ver o resgate do primeiro mineiro chileno, preso a quase 700 m de profundidade, depois de um desastre, como outros 32 trabalhadores.
Fico pensando nas emoções a que estiveram sujeitas as famílias dos mineiros. Penso em tudo o que pode – e deve - ter passado pela mente das esposas, dos filhos, dos pais, em tantas noites mal-dormidas.
Penso em tantos momentos de desespero que podem ter acometido as esposas, talvez debaixo do chuveiro, enquanto a água caía, e o pensamento estava lá, com os maridos, debaixo da terra; ou talvez, nos momentos das refeições: filhos e mulheres vendo o lugar do pai vazio. Podem ter havido aniversários, quem sabe, sem aniversariante, ou eventos de pré-escola, com filhos sem saber se o pai chegaria, em tempo de ver, em tempo de viver.
Acontece que, como já falei, vi o resgate de alguns destes homens, e ainda estou vendo.
Penso que assistir a esta volta, talvez me tenha motivado a ver que o feriado também foi um feriado de retornos. Alguns homens, diferente do Pedro, puderam voltar, estão voltando para casa.
Homens que vivenciaram, física e psicologicamente, a morte, de maneira muito particular e próxima, tiveram, felizmente, a chance de experimentar da vida, mais uma vez.
Com perdas e ganhos, danos irreparáveis e momentos de esperança, me ponho a pensar no próximo feriado. Que ele venha com mais ganhos do que perdas, com mais esperança do que desespero, com mais retornos, com mais sonhos, com mais futuro do que os outros dias.
E que eu tenha sempre uma boa companhia que me lembre dos ganhos e dos planos, ainda que saibamos das perdas e das lutas.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Indefinições muito bem definidas


Nunca fui uma pessoa de gostos muito definidos.
Tive, desde sempre, dificuldades em fazer coleções de objetos. Não houve objeto que tenha me conquistado a tal ponto. Nunca terminei meus álbuns de figurinhas - nem o da Copa do Mundo, nem o da novela infantil Carrossel, minha grande paixão na televisão brasileira.
Acontece que, uma cantora, inexplicavelmente, me ganhou de vez, me fez estabelecer um padrão de gosto, desde a primeira canção que ouvi embalada pelo timbre terno e incisivo de sua voz. Maria Rita, a filha de Elis Regina e César Camargo Mariano é a artista que desde muito tempo possui toda a minha admiração.
Em 2003 a vi pela primeira vez em Londrina, num show mais modesto em questão de local. Em 2007, pela segunda vez a vi de perto, agora em Campinas, num show menor, mais seleto.
Na semana passada, porém, mais uma vez, tive o prazer e a emoção de estar no mesmo ambiente que a Maria Rita, junto a pouquíssimas pessoas, num show intimista, em ambiente que convidava ao particular. Foram 80 minutos a desfrutar das canções que canto desbravadamente, no mais alto som, dentro do meu carro, enquanto ruas, árvores, pessoas passam por mim diariamente.
Penso que no caso de Maria Rita, a voz – linda e trabalhadíssima – acaba sendo um detalhe a mais. Essa minha cantora é uma intérprete maravilhosa, que se alegra, que se contrai, que esbraveja, que dança, e sobretudo, que chora, se a música, se o coração, pedirem. Talvez por isso ela tenha me deixado de queixo caído.
Penso que essa capacidade de direcionar nossas emoções para o que fazemos, de sentir, de fato, e viver, aquilo que pregamos todos os dias, é o que nos particulariza e individualiza. Penso que, no meu trabalho, nas minhas atitudes, nas minhas falas, em tudo o que trago comigo, devo aprender a, de fato, experimentar das emoções que me acompanham, que são muitas, que são intensas.
Sou de poucos números. Não sei contar figurinhas, não sei organizar coleções.
E se me pedirem para dar aulas sem emoção, para contar uma história sem caras e bocas, para não me incomodar ou não abraçar um amigo que está em dia ruim, não sei se sei. Pensando por este lado, acho que meu gosto é completamente definido. Definido pelo momento, pelo coração, pela música que me acompanha em cada circunstância. Sou completamente definida pelas indefinições da minha vida.

sábado, 2 de outubro de 2010

Seções


Amanhã é dia importantíssimo.
As eleições chegaram, depois de passarmos dias perdidos, passeando por entre tantos candidatos que se dispõem a cuidar do nosso estado, do nosso país, no criteriosíssimo horário eleitoral de nossa TV brasileira.
São muitos os que se apresentam, uns achando que sabem o que fazem, outros declaradamente não possuindo ciência. Em alguns acreditamos, em outros, perdemos a fé há muito tempo.
Neste ano de 2010, em que só se fala em eleição, o primeiro voto feminino - sem restrições e pormenores - completa 64 anos. Um número altamente expressivo, que expõe tantas das fraquezas da sociedade, que mostra, desveladamente, quantas mudanças ainda são necessárias para que se possa falar em direitos iguais.
Penso que, talvez, nós mulheres, que nascemos em um momento no qual o voto feminino já era comum, pareçamos ter dificuldades em valorizar a oportunidade de sair do silêncio e nos posicionar e escolher aquilo que julgamos importante e necessário para nossa educação, segurança, conforto.
Além das eleitoras femininas, temos agora duas candidatas à presidência.
A começar de Alzira Soriano, em 1928, primeira mulher a ocupar um cargo eletivo - prefeita de Lajes/RS -, Marina Silva e Dilma Roussef se dispõem a assumir nosso presente e futuro. Ainda, de acordo com o que temos visto e ouvido, há grandes chances de que de fato, a representante de nosso país venha a ser do sexo feminino.
Se as mulheres parecem estar em evidência nas eleições de 2010, minha sugestão é de que, por alguns minutos, todas elas, candidatas, eleitoras, observem de maneira criteriosa e sensata suas atitudes.
As gerações de mulheres que nos antecederam trilharam longos caminhos, passando por reivindicações básicas, como a escrita, a escolaridade. Quando alcançaram uma aquisição de tamanha importância, a de ser parte da democracia proposta pelas eleições - no dicionário “arbítrio”-, mereceram, no mesmo momento, nossa busca por um voto refletido.
Seja Dilma, Serra, Marina, à presidência, e tantos outros aspirantes a políticos, candidatos a outros cargos, quero trazer à memória das mulheres, que nos foi proposto, ou imposto, o silêncio, durante muitos anos – talvez mais do que consigamos imaginar. Se hoje, podemos usar da nossa voz, que saibamos empregá-la honrando nossa conquista do voto: sendo coerentes, responsáveis, conscientes.
Desejo um bom voto a todas, e, sobretudo, pouca fila nas seções.