segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Coisa de outro mundo!


Hoje, pela décima vez, talvez, no dia, meu telefone tocou. Era a VIVO, me oferecendo pacotes, internet, ligações, e um mundo maravilhoso de contatos e conexões que eu estou desesperada para desconectar.
Querendo MORRER quando percebi a ligação, cortei logo o assunto e voltei ao que estava fazendo antes, respeitando – e perdendo - os cinco minutos praxe para lembrar o que estava pensando e escrevendo.
Neste tempo, me lembrei de uma história que um aluno, todo prosa, contava aos colegas na sala de aula, enquanto a professora guardava folhas, amontoava trabalhos, e apagava a lousa.
Num fim de tarde, próximo do fim de semana, a ex-namorada apareceu, depois de um longo tempo. Era uma mensagem no facebook, querendo puxar papo, como quem não quer nada.
O moço, sem saber das intenções da sumida moça, conversou. Entre mensagens pacíficas sobre o que haviam feito no tempo sem contato, e outros assuntos descomprometidos, a pergunta saltou aos olhos do rapaz.
- O que é que você vai fazer no sábado à noite?
O rapaz, que limpava o suor das mãos na colcha da cama, não sabia se pensava, se digitava, se lia, se respondia a pergunta. Depois de um tempo, respondeu com outra.
- Não tenho planos, por quê?
Entre ansiedade e dúvida, alguns pensamentos nasceram: Seria um convite, um plano? As mãos suando. Seria saudade? O que ele ia responder? Que ia? Que não podia? Poxa, dar uma difícil numa hora dessas?
Pensou que ia, qualquer fosse o convite. Mas e se ela não mudou? Se isso resultasse numa volta de namoro, o que seria diferente? As mãos suando. Cadê a resposta?
E, sem rodeios, a ex-namorada não soube mais resistir:
- É que estou vendendo Herbalife. Será que você não gostaria de vir a uma reunião? O shake é, assim, coisa de outro mundo pra quem quer perder peso!

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Será que alguém anda escondendo???


Atarefada com os compromissos acadêmicos, confesso que algumas crônicas tem nascido em uma semana e terminado em outra. Sem pé, ou sem cabeça, ficam dormindo na minha pasta de crônicas até que o tempo me disponibilize um espacinho para uma escrita mais descomprometida e suave do que deve ser a da tese.
Esta crônica é um desses casos.
Na semana passada, enquanto passeava pelos canais da TV, ouvi a repórter noticiar uma atleta chinesa das Olimpíadas que ligou para casa para comemorar o ouro, e soube, pelos pais, sobre o falecimento dos avós.
A polêmica que virou noticiário se deu em razão da morte ter ocorrido há mais de um ano. Os pais não quiseram atrapalhar o treinamento da atleta.
Longe de querer discutir as conseqüências do rigor e da cobrança em relação aos assuntos do esporte, me coloquei no lugar da moça, e tomei, inclusive a liberdade de imaginar o movimento contrário.
Que bom seria saber, hoje, que na verdade, meus avós que me fazem maior falta do que a distancia entre Brasil e China, estão, na verdade, por aí.
Querendo transformar fato em ficção, fico pensando – e torcendo: será que alguém anda me escondendo alguma coisa???

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Insolúveis noites


Ultimamente tenho perdido o sono. Quando tenho bastante sorte, meus olhos querem fechar antes das 3 da manhã. Agora, quando os olhos escolhem não dormir, decido nem olhar pro relógio, com medo de ele ter acelerado o passo levando a noite embora.
Mas não é culpa dos olhos não quererem fechar. É culpa da cabeça pensar muito, pensar sempre. Faço planos, desfaço, penso naquelas questões que parecem insolúveis, volto nos planos, tento solucionar aquelas questões que eu quis fingir que esqueci, lembro de coisas da infância, desfaço planos novamente, e a noite se vai, longa e cheia de inveja de quem está roncando, em outro mundo, bem ali do lado.
Por entre os planos e as preocupações, penso em temas de crônicas. “Puxa, quando eu acordar, vou escrever sobre aquele assunto. Vai ficar bom!”.
Uma hora, demore ou não, durmo. E quando amanhece, e a lua se vai, o assunto se vai com ela, e eu não tenho idéia do que pensei em escrever.
Sabendo que o assunto só vai voltar na próxima noite de muito pensamento e pouco sono, fico a imaginar sobre o que era. Se ao menos eu tivesse anotado!
Por outro lado, se eu tivesse anotado, de que outro modo eu poderia chorar as pitangas para os leitores e contar que não ando dormindo de preocupação com algumas questões que parecem insolúveis?

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Ordem e Progresso


Sinto que às vezes as palavras se repetem, que os temas são meras cópias, mas o que fazer se as preocupações e as indignações perduram, ecoam da mesma maneira - ou até mais - do que antes.
Cada dia mais me sinto afundada em falhas e lacunas que a educação não anda dando conta de consertar, ou seria concertar?
Os emails bem humorados apontam as pérolas do Enem; a internet espertíssima trata de divulgar as grafias mais esdrúxulas de palavras comuns; ela mesma, ironicamente, veicula mensagens de internautas apaixonados, uns para os outros, que tanto “si amam”; os alunos me desconcertam com seus “concertezas” grafados nas provas.
Minha preocupação é: se o professor anda com dificuldades de desconstruir erros e maus-aprendizados, e construir um aluno que ande lado a lado com a educação, tenho até medo de parar para pensar no que o computador vai poder fazer, sozinho, em favor do ensino.
Não se engane, não sou contra o progresso. Também não tenho um perfil saudosista. É só um sentimento de companheirismo, de pensar que trabalhar juntos seria, assim, progresso pra todos.
Mas vou aprendendo. A idade, que, confesso, não é muita, anda me ensinando a duras penas que as indignações tem que ecoar por muito tempo até começarem a fazer barulho. Vamos assim, obedecendo a ordem de quem manda, de quem acha que assim se anda fazendo progresso.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Coxinhas para quem sabe guardar um segredo


Dizem que toda e qualquer pessoa do mundo possui dentro de si um segredo. Pode estar guardado por amor a alguém, por medo da perda ou da mudança, por respeito para com o outro, dentre tantos outros motivos.
Há quem morra carregando seu segredo. Há quem morra por um segredo. Mas há também quem nasça com um.
Ontem, fim de tarde, fomos à casa da avó – do marido, mas que assumi como minha, com muitíssimo prazer-, que fritou coxinhas que ela mesma fez com todo o carinho de avó.
Família sentada na mesa, muita conversa por entre coxinhas, molhos de pimenta e refrigerante, a avó revelou: Quando o Nando – neto do meio - nasceu, no dia do nascimento, foi pro colo do avô. Lá, ele falou, contou um segredo.
Sobre o segredo, o avô nada disse. Só comentou que o neto ia ser gênio, porque sem saber falar, falou, sem saber falar, segredou algo que cresceu na cumplicidade dos dois.
Anos depois, o avô se foi, e levou com ele o que o Fernando falou no dia em que saiu da barriga da mãe. Dizem que segredo não é pra ser contado, e não foi.
Sem poder saber do segredo, faço as minhas elucubrações: Certamente o bebê comemorou o colo e as delícias da casa dos avós. Só lá coxinhas são fritas no domingo à tarde, só lá os pés de limão rosa despontam os galhos na janela da cozinha, só lá as paredes são coloridas pelas fotos de infância desbotadas, arte de valor inestimável, só lá as lembranças moram, junto, é claro, com os segredos.

domingo, 27 de maio de 2012

Entre Sierras y Reynas

Modéstia é uma coisa que não se encontra em qualquer esquina. É fácil encontrar quem goste de se autocongratular e elogiar, e raras são as pessoas que nos deixam elogiá-las.
Na semana passada estive em Cordoba, na Argentina, num Congresso sobre Gênero.
Por entre suas serras, seus cachimbos, seus lomitos e humitas, a cidade cordial deixou memórias das quais tenho a certeza de que sentirei falta.
Por entre suas igrejas, faculdades, parques e fontes, a cidade dos leitores e das livrarias, imprimiu em minha vida marcas que vão desde o âmbito pessoal ao acadêmico.
Querendo arriscar na apresentação do trabalho, já que foram mais de 1930 km de distância, rasguei meu espanhol - metade neologismo (professora geralmente tem licença linguísitica) e metade português - , conversei, e ouvi muito sobre gênero. Sobretudo vi e ouvi sobre Reyna Carranza, nas palavras dela mesma.
Colocando em questão correntes literárias e crenças da academia, Reyna falou sobre suas personagens, construídas com tanto afinco; sobre a própria Reyna, e por que não dizer sobre a Reyna personagem, marcada pela condição cultural, política e social; falou sobre a Reyna mulher, tão feminina, tão feminista.
E depois, ah, depois, depois, de tudo o que ouvi sobre a Reyna; depois de ganhar dela um bem dos escritores autografado “com o meu afeto, para Andreia e Luis”; depois de guardar o momento com fotos e sorrisos; depois de chegar em casa, ainda leio no meu mural do facebook a Reyna me dizer que Luis e eu enriquecemos o seu evento.
Por estas e outras é que Córdoba está no meu ranking de cidades preferidas. Porque a cidade, descomprometida e modesta, escondida por entre as serras, abriga e preserva relíquias e pessoas tão cheias de virtudes e valor.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Boas noites


Na noite passada, querendo pegar no sono quando o sono não quer ser pêgo, fiquei deitada na cama dividida com o marido, pensando nas mudanças que ocorrem, assim, de um dia para o outro.
Fiquei imaginando... um dia, você pode ter o melhor emprego do mundo, no outro, precisar de auxílio de alguém pras contas do mês.
Em um dia, você pode ser uma pessoa honesta com anos de construção de sua boa índole, no outro pode ser moralmente devastado por um comentário qualquer.
Em um dia, você pode ter a sua família junto, no outro, parte dela pode não mais estar.
Em um dia, em um minuto, em um segundo, a vida pode dar uma reviravolta da qual nunca mais se esquece.
Mas se a vida pode mudar completamente, pode mudar pra melhor.
Faço questão de dizer ao marido diariamente sobre o quanto ele tem mudado a minha vida para melhor.
Num dia eu era filha e irmã. No outro me tornei esposa e mãe.
Faço, hoje, coisas que nunca achei que faria: Se preciso, levanto cedinho, antes do marido pegar a estrada - coisa que acontece sempre -, faço café, ovos mexidos, torradas.
À noite, cozinho aquilo que ele tiver vontade de jantar. Se não souber, ligo pra mãe, sogra, apelo para o google. E faço. Não porque eu ache que, sendo esposa, eu deva fazer, mas porque esse marido merece. Faço o que puder. Faço o que estiver no alcance. O marido merece. A mudança merece.
Na noite passada, querendo pegar no sono quando o sono não quer ser pêgo, fiquei deitada na cama dividida com o marido, pensando nas mudanças que ocorrem, assim, de um dia para o outro.
Ouvindo o ressonar do marido bem ao lado, em pensamento, comecei a agradecer a Deus pelas boas mudanças. Que elas aconteçam sempre, que venham acompanhadas de bons encontros, de boas noites de sono, de bons pratos à mesa.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Menina Moça


Eu, que nunca pensei em ter filhos – nem que sim, nem que não - talvez porque a maternidade nunca pareceu combinar com o meu jeito nada coordenado e pouco responsável, ganhei, no último ano, uma filha linda e moça.
Preocupada com o que devo fazer ou não, com o que ela mereça, com o que não mereça também, fico, às vezes, pensando em como ela me vê, se está feliz, se estou somando, estando por perto.
Penso isso porque de algumas coisas que dizem respeito a ela eu participo, e de outras não, como por exemplo, a tarefa. Geralmente ajudo pouco com a tarefa da escola. Ela é responsável e nasceu de tarefa pronta.
Tampouco colaboro com o estudo. Ela estuda sempre, estuda muito, reproduzindo na fala o conselho do pai de que "as matérias nas quais temos mais dificuldades são aquelas para as quais devemos mais nos dedicar".
Tenho pouco jeito, também, para os jogos que ela joga: Banco Imobiliário e War foram, e sempre serão, desafios para a minha mente nada estratégica e muito filosófica.
No último domingo, porém, fiz uma descoberta, e as minhas dúvidas quanto à natureza da minha participação, de certa maneira, se dissiparam.
Enquanto eu, no banheiro, me preparava para um passeio a três, com direito a pizza, ouvi a porta do quarto abrir de maneira estabanada. Pelo espelho, encontrei-a com a cabeça entre a porta e a parede, e os olhos curiosos em busca de algo. Sem encontrar, dirigiu-se, com pressa, ao meu marido:
- Pai, a Andréia vai de salto?

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Memórias educadas


Há quem acredite que aquilo que fica em nossa memória, e que nos forma como pessoa, pode se tornar, ou pode, talvez, nos tornar obsoletos.
Eu, porém, discordo.
Hoje cedo, passando por uma estrada desconhecida, vi uma pousada pendurada na encosta de uma montanha. A "Pousada da Vovó Ana" tinha cara, cheiro, aparência, de coisa de vó.
Tenho muito apreço para com aquilo que consideramos como coisa de vó. Uma pitada de velharia é tão importante quanto a modernidade do tempo presente.
Acredito, por exemplo, na eficiência de uma educação tradicional - não severa, mas exigente! - na escola, em casa, fora delas também, por que não.
Acontece que a minha crença neste sistema deve mesmo estar por fora.
Tenho assistido a algumas mudanças na educação que cortam meu coração e varrem por agua abaixo grande parte daquilo que aprendi como ensinadora.
Sâo mudanças que eliminam o contato entre as pessoas, que minimizam experiências que podem ser trocadas entre elas, que massacram com as expectativas e planos de quem se preparou pra ser doador de tudo o que tem. Acho impossível, depois, cobrar humanidade, menos frieza e mais consideração das pessoas, quando as relações propostas pela educação tem, de certa maneira, abolido com a idéia de coletividade.
Espero eu que os resultados venham a muito longo prazo, ou não venham, porque o que se planta, quase sempre se colhe.
Não tenho certeza se estou, ainda, certa ou errada. Sei que não mais vou me torturar por escolher, muitas vezes, querer morar dentro de uma realidade que, aos poucos, nem mais me pertence.
Acompanhada das minhas memórias de uma época em que avós tomavam tabuadas enquanto os pais trabalhavam, das minhas expectativas e investimentos carregados até agora, vou pagando - e quase não recebendo - pra ver onde é que iremos todos parar...