domingo, 15 de agosto de 2010

An passant...



Até hoje meu pai tem orgulho de contar: Em meu aniversário de 4 anos, me pegou no colo, me levantou à altura do mapa mundi que ficava pregado na parede do escritório de minha casa, e mostrou para a família e os amigos o que tinha me ensinado.
Ele apontava qualquer país do mapa, sem me dizer o nome do lugar e eu acertava a capital.
Pouca coisa depois, minha mãe, acumulando livros na estante de meu quarto, para que, quando alfabetizada, eu pudesse ler, despertou em mim uma curiosidade louca pela leitura. Ali, minha mãe, meus livros, eu, simplesmente nos aprendemos.
Penso nesses aprendizados, e percebo que, infelizmente, os aprendizados de hoje me tem parecido tão complexos. São excessivamente subjetivos, doídos, e tão particulares, que tenho sentido uma falta profunda de meu tempo de infância.
Me parece que hoje surgem circunstâncias de bem menos precisão. Dificilmente me pego em situações tão práticas, raramente deduzo tão bem, quase nunca é tudo tão certo e direto. Hoje não gosto tanto de geografia, a memória não é mais a mesma, minhas leituras não são mais tão prazerosas quanto Ruth Rocha.
Sabendo que não tenho chances de voltar a ser criança, tenho tentado desconstruir algumas noções sobre o objetivo, sobre o óbvio, tenho buscado ser assim, mais “an passant”.
Basílio da Gama conheceu a capital do Brasil como sendo Salvador. Meu bisavô, o Rio de Janeiro. Eu, Brasília. Quem é que vai dizer que mesmo as objetividades são assim, tão certeiras?

2 comentários:

  1. Ótima reflexão, Andreia, sinal que vc continua o mesmo ser pensante de antes com a diferença que seu cérebro evoluiu e abriga um corpo maduro, subjetividades é para adultos, crianças são boas para memorizarem. O ideal é guardar a criança dentro da adulta, e dosar esses dois lados maravilhosos que nos impoem a vida.

    Beijinhos*-*

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  2. eu gosto de dizer aos meus alunos que toda objetividade passa também pela subjetividade. Hoje em dia a capacidade de abstração da juventude, fazer ilações, relações, transcender o objeto que está em sua frente, é preocupante.

    beijo

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