quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Indefinições muito bem definidas


Nunca fui uma pessoa de gostos muito definidos.
Tive, desde sempre, dificuldades em fazer coleções de objetos. Não houve objeto que tenha me conquistado a tal ponto. Nunca terminei meus álbuns de figurinhas - nem o da Copa do Mundo, nem o da novela infantil Carrossel, minha grande paixão na televisão brasileira.
Acontece que, uma cantora, inexplicavelmente, me ganhou de vez, me fez estabelecer um padrão de gosto, desde a primeira canção que ouvi embalada pelo timbre terno e incisivo de sua voz. Maria Rita, a filha de Elis Regina e César Camargo Mariano é a artista que desde muito tempo possui toda a minha admiração.
Em 2003 a vi pela primeira vez em Londrina, num show mais modesto em questão de local. Em 2007, pela segunda vez a vi de perto, agora em Campinas, num show menor, mais seleto.
Na semana passada, porém, mais uma vez, tive o prazer e a emoção de estar no mesmo ambiente que a Maria Rita, junto a pouquíssimas pessoas, num show intimista, em ambiente que convidava ao particular. Foram 80 minutos a desfrutar das canções que canto desbravadamente, no mais alto som, dentro do meu carro, enquanto ruas, árvores, pessoas passam por mim diariamente.
Penso que no caso de Maria Rita, a voz – linda e trabalhadíssima – acaba sendo um detalhe a mais. Essa minha cantora é uma intérprete maravilhosa, que se alegra, que se contrai, que esbraveja, que dança, e sobretudo, que chora, se a música, se o coração, pedirem. Talvez por isso ela tenha me deixado de queixo caído.
Penso que essa capacidade de direcionar nossas emoções para o que fazemos, de sentir, de fato, e viver, aquilo que pregamos todos os dias, é o que nos particulariza e individualiza. Penso que, no meu trabalho, nas minhas atitudes, nas minhas falas, em tudo o que trago comigo, devo aprender a, de fato, experimentar das emoções que me acompanham, que são muitas, que são intensas.
Sou de poucos números. Não sei contar figurinhas, não sei organizar coleções.
E se me pedirem para dar aulas sem emoção, para contar uma história sem caras e bocas, para não me incomodar ou não abraçar um amigo que está em dia ruim, não sei se sei. Pensando por este lado, acho que meu gosto é completamente definido. Definido pelo momento, pelo coração, pela música que me acompanha em cada circunstância. Sou completamente definida pelas indefinições da minha vida.

4 comentários:

  1. *Andréia, sei que a Maria Rita não é a *Elis

    Regina ! Mas, convém lembrarmos que a mãe dela

    foi classificada na época como uma das 04

    maiores, melhores cantoras DO MUNDO !!! (*Não

    é à toa que "Maria Rita" seja tão BOA; né ?!).

    *Ótimo domingo e um ALEGRE feriado para

    *Você na companhia de todos os seus !!!

    *Fiques com Deus.

    *Um abraço.

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  2. Andréia, foi muito lindo seu encontro com Maria Rita e, ainda, o que o encontro lhe proporcionou: o encontro com você mesma, na busca de suas definições, ou de suas indefinições.
    Momento especial, momento seu.
    Você é uma pessoa muito especial,não precisa "saber contar figurinhas, fazer coleções", com ou sem definições, seja sempre você mesma.
    Bom feriado!!!

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  3. Eu diria que você aceita a sua mutação enquanto ser humano. Acredito que durante a infância, na medida que construía a tua personalidade, os gostos não eram por fim definidos por se tratarem de possíveis imposições. A cultura familiar e até mesmo a social fez com que tu realizasses algumas coleções e fez com que tu pensasses que gostava de outros produtos.

    Mas quando tua consciência passa a decifrar os significados (códigos) do mundo (a partir, em média, dos 12 anos), algo fará com tu te identifique com alguma forma de expressão. A música é um ótimo começo, e os embalos de Maria Rita são poesias a quem escuta.

    (Essa é a explicação científica-teórica)

    A minha observação poética da liberdade e do cotidiano te vê, fragmentadamente, como uma desbravadora da razão. Nesse sentido, concordo com o cometário anteriormente realizado: você só precisa ser você mesma.

    Adorei o espaço.

    Saudações estrelares.

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  4. Queridos,
    Obrigada pelos comentários!
    Anônimo: de fato tenho me encontrado em muitos outros encontros de minha vida. Tem sido sim, maravilhoso, me descobrir, e poder ser eu mesma.

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