terça-feira, 12 de novembro de 2013

Histórias só pra quem tem irmão


As histórias mais valiosas da vida costumam ser aquelas que guardam os irmãos, talvez às sete chaves, como cúmplices fiéis, ou mesmo como admiradores, ou quem sabe como co-autores das maiores missões a dois.
Costumo dizer sem medo que é quase impossível dizer que se está completo, se não houver uma testemunha que cresceu junto, aprendeu junto, ajudou a apaziguar bronca de mãe, ou, pôs fogo, como haveria de ser, quando se fala em irmãos.
Ainda me lembro de um domingo à tarde ensolarado que só ele.
Irmão e eu dentro de casa curtindo o calor, quando eu me lembrei: precisava guardar o carro na garagem. Na parte da manhã meu Uno antigo, presente de 18 anos, tinha ficado descansando na rua porque o controle remoto do portão resolveu desobedecer. À tarde, porém, problema resolvido, carro urgente pra dentro de casa.
Levantei do sofá, peguei a chave do carro na mão e fui na direção do portão.
Meu irmão deu um pulo do sofá, e implorando para que eu arranjasse um programa domingueiro melhor do que a televisão na Globo, me perguntou:
- Onde você vai?
Querendo ver até onde a coisa ia, respondi:
- Tomar um sorvete. Vamos?
Mais do que depressa ele agarrou a camisa regata e saiu andando ao mesmo tempo em que calçava os chinelos. Os olhos brilhavam e ansiavam passar pelo portão e encontrar a porta do carro. 
Sentado no banco, perguntou pelo dinheiro pro sorvete. A resposta precisava ser a que ele queria ouvir. Obedeci:
- Tenho aqui pra nós dois. Tranquilo.
Liguei o carro e dirigimos até o fim do quarteirão. Na esquina, o balão. Voltei pra trás, abri o portão da garagem e guardei o carro. Os olhos brilhando estalaram fixos em mim enquanto eu descia do carro. Eu sem saber se segurava a risada ou se caía na gargalhada, desci calma e tranquilamente.
Quando ele fechou a porta do Uno, estendeu a mão, gargalhada pura e reconheceu. Foi mesmo uma ótima mentirada. Não dava pra esbravejar e nem brigar. Era coisa pra contar pros outros, coisa pra rir toda vez que a memória trouxesse de volta.
No último domingo de sol, relembramos esta delícia de história, Henrique e eu. Ele ainda reconhece a belíssima tirada que foi aquela, daquele dia quente de domingo. E nós dois sabemos que essa é uma daquelas memórias eternas, memória das boas, daquelas que só quem tem irmão sabe ter.

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