terça-feira, 16 de março de 2010

A linha do tempo e da letra


Lembro-me até hoje de um de meus primeiros contatos com a leitura.
Passeando perto da Catedral de minha cidade com uma amiga de meus pais e seu bebê de colo, li numa parede branca, em letras garrafais azuis: L-I-V-R-A-R-I-A D-I-O-C-E-S-A-N-A.
O espanto dela foi absurdo. Uma menina de cinco anos não deveria saber ler um nome tão comprido.
Dois anos depois, escrevi um livro, proporcional a meu tamanho, é claro. A princesa Isadora foi publicado no suplemento Gazetinha do jornal da minha cidade. Lembro-me da avó emocionada quando a mãe entrou em casa segurando o jornal.
Hoje escrevo, leio e penso nas histórias de leituras e de escritos.

Em 1800 e pouco, ou muito, para quem viveu, Nísia Floresta buscava conscientizar as mulheres e os homens sobre a importância do letramento feminino, até então sem espaço, numa luta pesada e quase solitária.
Condenando conotações feministas, hoje sabemos ler, escrever, e isso nos parece natural, comum. Se lemos letras garrafais, brincamos de princesa, entramos nas livrarias, ou fazemos morada nas prateleiras delas, é porque Nísia Floresta e tantas outras mulheres há dois séculos deram os primeiros passos. É porque elas engatinharam, ao menos, em favor de todas nós, levantando bandeiras pesadas de se hastear, mas que hoje são hasteadas a muitas mãos.


16.03.10

Andréia Hernandes

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