segunda-feira, 10 de junho de 2013

Meia-Noite em Assis

Tenho dificuldade para gostar de filmes de ficção científica. Aliás, para mim, qualquer coisa que seja científica demais, comprovada demais, certeira demais, soa bem menos atraente do que as coisas que ganham uma margem de subjetividade. A imaginação e divagação certamente têm lugares cativos nas coisas pelas quais tenho gosto: filmes, músicas, livros e otras cositas más.
Assisti, talvez pela enésima vez, o filme “Meia Noite em Paris”. O rapaz, Gil Pender, escritor desmotivado com a época em que vive, consegue a façanha de viajar no tempo e conhecer os seus maiores ídolos da Paris anos 20.
Fora o aspecto humorístico do texto – o susto dele ao se encontrar com Hemingway merece ser visto mais de uma vez -, é delicioso imaginar a possibilidade de poder estar na companhia de seus maiores ídolos, em especial os literários, já que leitura está entre as minhas preferências.
Gil Pender tem, ainda, a sorte de poder discutir com estes escritores lendários sobre idéias para o livro que anda escrevendo, além de ter seu livro lido por Gertrude Stein, o que colabora em grande parte para formato que o livro ganha no final.
Imersa nesse mundo maravilhoso, fica quase impossível não pensar em como seria ter as minhas crônicas lidas pela Simone de Beauvoir, ou poder questionar Dostoiévski sobre uma salvação para o doce Sonhador em Noites Brancas, ou mesmo discutir poemas com Mallarmé enquanto pergunto a Nabokov sobre onde anda Dolores Haze.
Porém, quanto a mim, apreciadora das subjetividades, mas amarrada à realidade do cotidiano, quanto a mim, presa na minha cidade interiorana, me resta assistir ao filme com todo o gosto, e imaginar como seria estar companhia de meus ídolos. Me sentar na pracinha da Catedral da minha cidade, ouvir o sino da meia noite, e finalmente me encontrar com personalidades pelas quais tenho admiração seria uma loucura tão boa que é quase risível.
De qualquer forma, enquanto não acho que o sino da Catedral da Avenida Rui Barbosa tenha essa magia toda, não transporta pro passado, não abre portas para dimensão nenhuma que seja, todas as meias-noites assisenses tem sido iguais. Nada iguais às meias-noites de Paris, é claro, até porque estamos falando, simplesmente, de Meia-Noite em Assis.

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