Tenho dificuldade para gostar de filmes de ficção científica.
Aliás, para mim, qualquer coisa que seja científica demais, comprovada demais,
certeira demais, soa bem menos atraente do que as coisas que ganham uma margem
de subjetividade. A imaginação e divagação certamente têm lugares cativos nas
coisas pelas quais tenho gosto: filmes, músicas, livros e otras cositas más.
Assisti, talvez pela enésima vez, o filme “Meia Noite em
Paris”. O rapaz, Gil Pender, escritor desmotivado com a época em que vive,
consegue a façanha de viajar no tempo e conhecer os seus maiores ídolos da Paris anos 20.
Fora o aspecto humorístico do texto – o susto dele ao se
encontrar com Hemingway merece ser visto mais de uma vez -, é delicioso
imaginar a possibilidade de poder estar na companhia de seus maiores ídolos, em
especial os literários, já que leitura está entre as minhas preferências.
Gil Pender tem, ainda, a sorte de poder discutir com estes
escritores lendários sobre idéias para o livro que anda escrevendo, além de ter
seu livro lido por Gertrude Stein, o que colabora em grande parte para formato
que o livro ganha no final.
Imersa nesse mundo maravilhoso, fica quase impossível não
pensar em como seria ter as minhas crônicas lidas pela Simone de Beauvoir, ou poder
questionar Dostoiévski sobre uma salvação para o doce Sonhador em Noites Brancas, ou mesmo discutir poemas
com Mallarmé enquanto pergunto a Nabokov sobre onde anda Dolores Haze.
Porém, quanto a mim, apreciadora das subjetividades, mas
amarrada à realidade do cotidiano, quanto a mim, presa na minha cidade
interiorana, me resta assistir ao filme com todo o gosto, e imaginar como seria
estar companhia de meus ídolos. Me sentar na pracinha da Catedral da minha
cidade, ouvir o sino da meia noite, e finalmente me encontrar com personalidades
pelas quais tenho admiração seria
uma loucura tão boa que é quase risível.
De qualquer forma, enquanto não acho que o sino da Catedral
da Avenida Rui Barbosa tenha essa magia toda, não transporta pro passado, não
abre portas para dimensão nenhuma que seja, todas as meias-noites assisenses
tem sido iguais. Nada iguais às meias-noites de Paris, é claro, até porque
estamos falando, simplesmente, de Meia-Noite em Assis.
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