sábado, 27 de novembro de 2010

O melhor dia do mundo


Leciono, na maioria dos dias, no período noturno.
Um dia da semana, porém, acordo às seis da manhã, horário que acho uma covardia pra comigo, pra com os alunos, e vou dar aulas de literatura pra colegial.
Não sei se sei esconder o martírio que é pra mim acordar cedo assim. Sou completamente noturna. Durmo tarde demais, sempre.
Gosto da programação da TV da madrugada, dos filmes antigos que os canais resolvem passar, achando que não haverá quem assista; e a parte da manhã, acaba sendo, pra mim, o horário do meu melhor sono.
Nessa última semana de muito calor, dormi com a janela aberta. O relógio despertou às seis, me avisando que era dia de aula, que era dia. Foi um daqueles dias em temos a impressão de nem ter dormido, em que achamos que o relógio despertou errado, tanto era o cansaço.
Com a janela aberta, comecei a prestar atenção ao dia que estava nascendo. O céu, alaranjado, refletia nas paredes do meu quarto, enquanto os passarinhos faziam uma sinfonia.
Me debrucei na janela, e fiquei observando a cor das flores penduradas no pergolado do jardim. A cor roxa e convencional das flores ficava alterada, mista àquele alaranjado lindo do céu. Encantada com as flores, com as cores, querendo imortalizar o momento, peguei a câmera, e fiquei a fotografar as flores por alguns minutos.
Achei engraçado como num dia que considero cansativo, estressante, escolhi valorizar o que a manhã estava me dando de presente.
Fiquei pensando nos meus dias tão rápidos, na minha vida corrida, em como somos consumidos pelo imediatismo de nossa cultura, tendendo a prestar pouca ou nenhuma atenção aos pequenos belos momentos que certamente propõem uma pausa ao nosso dia acelerado.
Com uma amiga que me lembra sempre destes detalhes, ando aprendendo a comer fruta do pé, ando aprendendo sobre a ordem das coisas, no meio das desordens humanas, ando valorizando os pedaços de céu que ainda existem em algumas fendas dessa vida tão terrena.
Continuo sendo noturna, amando filmes, tendo um sono mortal pela manhã. Mas mesmo nas manhãzinhas em que os olhos estão quase fechados de tanto sono, eles tem enxergado o sol alaranjado, tem visto as flores mudando de cor, tem buscado notar cada coisa que avisa que o dia, que poderia ser só mais um dia, tem tudo para ser o melhor dia do mundo.
Pode não ser fácil. Arrisco até dizer que seja um processo de aprendizado, mas o que sei é que, ao final, a escolha é só minha.

2 comentários:

  1. Sou muito sensível a esta questão das "pequenas coisas da vida", como o seu desfrutar da manhã, que afinal são bem grandes. Acredito mesmo que elas são o nosso revigorante (quase) invisível...

    Beijo :)

    ResponderExcluir
  2. Quem salva manhã merece carregar o mundo nos braços, sem nenhuma dor ou sinal de cansaço.

    Incrível.

    ResponderExcluir