sábado, 28 de agosto de 2010

Pássaros, tempo e acasos...


Engraçado como o tempo, o mesmo tempo marcado no relógio de pulso de todas as pessoas deste mesmo mundo, pode ser tão relativo, completamente pessoal, simplesmente único.
Ontem, conversando entre amigos, falando sobre infância, escola, nossos programas de TV favoritos, um deles me contou que quando era pequeno, o pai sempre alertou:
- O horário de ir para escola é sempre quando Jiraia – seriado de luta japonês da década de 90 - acabar.
De acordo com meu amigo, quando os créditos finais do programa começavam a subir, era hora de colocar a mochila no ombro e ir logo estudar.
Achei engraçadíssimo e pensei sobre como relativizamos nossa noção de tempo, sobre como aprendemos o nosso horário, sobre como algumas coisas servem para nos despertar, de repente.
Hoje -sábado- cedo, dia que achei que teria permissão pra acordar mais tarde, pela primeira vez algo aconteceu. Acordei como nunca tinha acordado: com o canto dos pássaros que brincavam perto da minha janela. Com esforço para abrir os olhos, alcancei o celular que dormia no criado mudo: eram 07:07 da manhã.
Há quem acorde com pássaros cantando cedo na janela do quarto. Sei que há quem goste.
Eu, porém, achando que deveria, merecidamente, dormir o máximo que pudesse neste sábado, fiquei quietinha, querendo pegar no sono novamente. Foi impossível. Tudo o que consegui foi ouvir os pássaros cantando para o dia que já tinha despontado, e então comecei a pensar sobre como escolhemos ser acordados.
Podemos escolher acordar para o dia, para todos os dias, prontos para viver o que este dia trouxer com ele. Podemos acordar e escolher ficar mau-humorados porque os pássaros atrapalharam nosso sono. Podemos dormir novamente, sem querer perceber que os pássaros estão cantando só para nós, sem nem notar que a manhã passa rapidamente, querendo virar tarde, desejando virar noite, antes que notemos.
Abri a janela e não vi os pássaros, mas sei que eles estiveram lá.
Acordei de fato, cedo assim. Escolhi a manhã, aproveitei o tempo. Talvez porque eu pense que ter que acordar, no meu caso, no seu caso, não seja um acaso.
Desejei a mim, desejo a todos, um ótimo fim de semana, de olhos acordados e atentos ao tempo, preciso em cada acaso.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Alinhavando lembranças.


Algumas lembranças nos aparecem nos momentos mais inesperados, chegam quando menos aguardamos, como uma fotografia guardada, tirada de uma caixa antiga, quase sumida, trazendo de volta tantos sentimento que andavam, talvez poupados.
Hoje tive um momento tão único que não sei se será possível traduzir. Penso que tenho poucos recursos para descrever o que me passou pela mente, pelo coração, na tarde de hoje.
Massacrada pelo calor das três da tarde, me propus a enfrentar a sauna que é o centro da minha cidade. Precisava pagar algumas contas, levar algo ali e lá para arrumar, desarrumar a conta bancária, gastando mais, e entre tudo isso, precisava passar na costureira, que me prometeu dar jeito nas roupas que há um tempo andam ficando largas na minha silhueta.
Na prova da roupa, na casa da costureira, notei que alguns ajustes ainda eram necessários, e fiquei ali mesmo, a esperar a D. Lurdes, sentada na máquina, a modificar o que não deu certo.
De repente, com as mãos presas ao batente da porta, pondo só o rosto para dentro da sala, uma garota de 12 ou 13 anos esperava, comigo, a avó a terminar o serviço.
Eu vi, me vi, naquele momento. Quantas vezes eu, neta de costureira, como aquela menina, observei minha avó por entre as idas e vindas da agulha, riscando os moldes no jornal, acelerando ou reduzindo o ritmo da música da máquina de costura, vestindo as amigas, as mesmas que ligavam para saber se estavam prontas as roupas, me perguntando:
- É da casa da Dona Giza?
- Da Dona “Ziza”, aham, é. – sempre gostei de tudo muito certo.
A costureira, D. Lurdes, tentava fazer o serviço rápido, certamente imaginando que eu estaria com pressa. A verdade é, porém, que a tarde me foi tão familiar e despertou tantas boas recordações, que congelei o momento, enquanto o som da máquina de costura acelerava meu pensamento, e reduzia, trazendo, entre os cerzidos e arremates, a minha história e de minha avó, de tantas saudades, tão mal arrematada pra mim.
Brinquei com a neta de D. Lurdes, conversei um pouco, perguntei se ela ficava sempre na casa da avó. Ela disse que sim. Eu disse que casa de avó era bom, contei que a minha também tinha sido costureira.
Não contei, porém, que tudo o que eu queria era a máquina de costura de minha avó trabalhando novamente, nos atrapalhando ouvir o som da TV, nos tirando a calma do sono da tarde no quarto que era dos netos.
Não contei que eu desejava a ela, a neta, que ela tivesse ainda muito tempo de vó, de máquina de costura, de linhas, de carretéis, de retalhos, de botões, de moldes, de agulhas, de zíperes, e tudo mais que avós costureiras nos ensinam.
Hoje não sei mais cobrir botões, coisa que eu sabia fazer para a minha avó, e vejo poucas máquinas de costura, já que compro roupas prontas. Mas da minha infância em casa de vó ao som de máquina de costura, disso não me esqueço, sempre me lembrarei.
Que a neta de minha costureira, a Ana, tenha a certeza de que ela viveu hoje, em meio a todo aquele calor fora de época, em plena quinta-feira, às 3 da tarde, um dos mais importantes momentos da sua vida. Ela, a avó, o som da máquina, os retalhos pelo chão, costuraram memórias que ficarão para sempre, como estas minhas, maravilhosas, que retornaram hoje, tão minhas e de minha vó Ziza – não Giza!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Entre outros plantios, as flores.


Gosto de requeijão e sei pouco sobre plantas. Essa semana, porém, ouvi uma história sobre margarina e flores, que me pareceu me caracterizar como pessoa de alguma forma.
Gosto imensamente de saber histórias sobre meu passado, ainda que seja um passado distante. Falo das histórias mais antigas, não apenas as minhas, mas as de avós, bisavós.
Jantando em família, neste último sábado, meu tio me contou algo que eu não sabia.
Minha bisavó, Iracema, sempre tinha em casa, margarina, para acompanhar o pão caseiro quentinho.
A margarina, naquela época, quase sem exceção, morava dentro de latinhas, como é hoje a manteiga Aviação, uma das delícias de uma cidadezinha de Minas Gerais onde nasceu uma amiga que mora, hoje, longe de lá, e muito perto do meu coração.
De acordo com meu tio, quando a lata de margarina ficava vazia, antes mesmo de comprar outra margarina, muito antes de pensar em outro pão quentinho, minha bisavó plantava, sempre, sem exceção, uma flor dentro da lata.
Fiquei pensando que dentro de uma simplicidade que eu sei que existia, até por pensar que as latas de margarina se transformavam em vasos de flores, sei que existiu uma sensibilidade extrema da parte de minha bisa.
Me fascinou, sobretudo, o poder que uma boa lembrança possui, de realmente acompanhar e dar cor e tom a algo que já se foi, talvez há mais tempo do que gostaríamos, ou que outros nem tenha de fato vivido.
De maneira maravilhosa, a lembrança conservou esta imagem na mente de meu tio, e hoje povoa o meu imaginário, eu, que nem conheci minha bisavó Iracema.
Hoje, em especial depois de saber de minha bisavó e de suas flores, adoro pensar que a conheço. Penso no fogão à lenha fazendo nascer um pão, vejo a lata de manteiga passando de mão em mão, de neto em neto, e depois, penso nos netos vendo a avó plantando. Plantando família, plantando memórias, plantando flores.
Como já falei, sei pouco sobre plantas, como mais requeijão do que como manteiga, mas tenho uma bela história para compartilhar. É sobre uma grande mulher, que plantou, entre muitas coisas, flores.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Arte supra-pós-moderna


Perdi, ontem, alguns minutos, me permitindo rir com a Vanusa no programa da peguéte do Mick Jagger, a Luciana Gimenez.
Um programa de alto nível como o dela, dono do mais puro e casto português, nossa “última flor do Lácio”, possui, de fato, todo o aval para ser palco da discussão sobre a gafe da cantora Vanusa no Senado há um ano.
Confesso que o vídeo do Hino Nacional interpretado pela Vanusa está entre os meus favoritos. Este episódio me arranca risadas mais longas e deliciosas do que qualquer outro vídeo já conseguiu, não importa quantas vezes eu veja.
Sob o pretexto de que estava medicada contra a labirintite, também ouvi da Vanusa, em entrevista à Sílvia Popovic, que quem a contatou não lhe enviou a letra do Hino Nacional. Pudera! Custava enviarem à Vanusa um email risonho e límpido com a letra da “música”?
Como se não bastasse, na última semana, fui surpreendida com um novo vídeo.
Sob o título de “Vanusa ataca novamente”, a cantora salta da canção “Sonho de um palhaço”, para “Como vai você”, de Roberto Carlos, percebendo e falando a si mesma, em meio à melodia das canções, que embananou as músicas. A verdade é que ela não deveria ter dito... Certamente passaria desapercebido.
Confusíssima, talvez menos do que nós, testemunhas oculares, e por que não auriculares, da arte supra-pós-moderna da cantora, Vanusa me ganhou novamente. Ri muito, ri exaustivamente.
Desde então, ando me considerando fã da Vanusa. Eu, tão descrente nos decadentes humoristas da TV brasileira.
Espero, do fundo de meu impávido e colossal coração, que Vanusa nunca deixe de cantar. Sou completamente a favor de novos olhares, do espírito transgressor, que recria o conceito de arte, ou nesse caso, de uma canção que, ao meu ver, andava mesmo meio obsoletinha... Puxa, são duzentos anos da mesma melodia, mesmo ritmo, mesma letra, um eterno tarararantan!
Na versão vanuso-portuguesa há muito mais ação e mistério! Nada é tão límpido, e a letra guarda um espírito vanguardista dentro de si, um tipo de inesperado que mora nas entrelinhas, nunca nos deixando saber qual a próxima palavra. Não sabemos! Nem a Vanusa sabe!

Retrato de um par de pés descalços


Sou uma apaixonada inveterada por filmes. Dos hollywoodianos aos clássicos.
Muitas vezes, tarde da noite; os olhos a ponto de lacrimejar; querendo fechar, encontram na TV um filme pelo qual me interesso. Nesse exato momento o sono se vai, e, ainda que eu tenha visto o filme uma infinidade de vezes, meus olhos se abrem como fosse tudo novidade.
Na noite passada, quase madrugada, me encontrei com o filme do meu coração, Peixe Grande, baseado no livro de Daniel Wallace, já visto tantas vezes que seria impossível enumerar.
Em Peixe Grande, o protagonista, Edward Bloom, deixa sua cidade, em busca de um lugar que comporte suas “grandes ambições”.
Logo no começo da caminhada, Bloom conhece um vilarejo chamado Espectro.
Espectro é o retrato do lugar perfeito. A grama é tão macia que os sapatos, desnecessários, são arremessados para cima e passam a morar nos fios dos postes de eletricidade. As pessoas são integralmente felizes e completas e sua vida resume-se a estar a conversar, fazer poesias sobre sua qualidade de vida, e dançar em roda.
Jamais quem esteve em Espectro deixou o lugar, de acordo com os habitantes.
Para o seu espanto, porém, Edward Bloom decide que aquele não era seu lugar, ou não era ainda o tempo fazer, de Espectro, seu lar.
Resolve partir, descalço e só, na iminência de machucar os pés, de ter nenhum subsídio, em busca de algo que Espectro não lhe poderia oferecer.
Não condeno Edward Bloom.
Escolher pela vida pode de fato ser sinônimo de optar pelo mais sofrido, e buscar atingir esta completude é nobre, e nada reprovável. Nossa zona de conforto ganha, muitas vezes, uma proporção que nos impede de crescer e caminhar em direção ao que sempre almejamos.
A realidade deve deixar de ser o limite, e a fantasia e os sonhos, que permitem a busca pelo que pode parecer loucura, são o que de fato traz a felicidade, e permite, também, que se faça outro feliz.
Ao final, no tempo certo, depois de se entregar à exilada vida de soldado, após conhecer seu grande amor, entre sofrimentos e alegrias de todas as naturezas, Edward Bloom retorna a Espectro.
Ele e o vilarejo, mais velhos, mais machucados, estão também mais maduros, e se fazem necessários um ao outro. Da maneira certa, no momento correto, como havia de ser, como haverá de ser, para eles, para nós.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Mestres e aprendizes...


Temos uma tendência de reclamar, sempre. Alguns, mais pessimistas, dizem que “a tendência é piorar”, outros mais otimistas, acreditam que a bandeira de paz há de se levantar.
A verdade é que reclamamos muito. Do irmão mais novo, do mais velho, de ser filho único, de morar perto, de morar longe.
Quanto a mim, gosto de ser irmã mais velha, e sempre quis um irmão mais novo. Desde que ganhei um, ainda que reclame, tenho meus momentos de êxtase, aqueles momentos nos quais me lembro do quanto é maravilhoso ser uma irmã mais velha.
Lembro-me que logo que tirei carteira de habilitação, sentia prazer em realizar qualquer tarefa que envolvesse a direção.
Tirava o carro da garagem para o meu pai, o guardava quando minha mãe pedia, levava meu irmão pequeno às aulas vespertinas de futebol, e o buscava, em pleno meio do dia, com a fome fazendo um rombo no estômago, na escola. Tudo isso pelo prazer e pela emancipação de conduzir um veículo.
Assumir a direção do carro era um prestígio, um frenesi, uma realização pela qual eu lutara dezoito longos anos.
Num desses dias, enquanto abria o portão automático da garagem para guardar o carro de meu pai, estacionado do lado de fora de casa, meu irmão, sete anos mais novo, correndo mais do que podiam as pernas, chegando ao meu lado, perguntou onde eu ia.
Pensando rápido, brinquei:
- Vou tomar um sorvete, vamos?
Ele se preocupou por não ter um trocado nem para uma bola de sorvete, mas minha generosidade fora maior:
- Eu pago pra você! Entra logo aí no carro.
Ainda me lembro do sorriso de meu irmão, satisfeitíssimo por ganhar uma bola de sorvete, assim, no meio da tarde, fruto de tamanha bondade da irmã mais velha.
E se sentou no banco do passageiro.
Saí com o carro, devagar, deixando o portão aberto. Fiz o balão na esquina de casa, e voltei, guardando o carro na garagem. Eu, segurando o riso, ele, a decepção.
De acordo com o meu irmão, que gosta de contar essa história e ainda ri muito dela, esta foi, e será, a melhor das minhas artes, espontânea e tão bem arquitetada.
Nas palavras dele: - Essa, tenho que admitir, foi de mestre.

domingo, 15 de agosto de 2010

"O medo é a medida da indecisão"


Penso eu que não tenho, assim, muitos medos.
Não tenho medo do silêncio e não tenho o menor medo de ouvir vozes. Não me preocupo com não enxergar no escuro, e nem com enxergar: vultos, fantasmas, que sejam!
Sou categórica e pouco imaginativa. Se estou em casa, de portas fechadas, e ouço um barulho na sala, não saio imaginando que uma alma penada saiu lá da outra dimensão pra se preocupar comigo e com o que ando fazendo sozinha em casa. Ele, eu, sabemos que não estou a fazer nada de interessante.
Agora, existe um medo que eu tive por muito tempo, com muita intensidade.
Eu tive medo de chuva.
Quando o céu começava a escurecer, eu me ajoelhava no sofá da sala de minha casa, assustadíssima pelo barulho e ficava, chorando, a observar pela janela aquela água sem fim que escorria pelas paredes do jardim de inverno e chacoalhava as plantas.
Acho que talvez eu imaginasse que as águas inundariam nossa casa, ou me assustava com o barulho e a força da chuva.
A verdade é que antes que a água pensasse em nos inundar, eu me afogava nas lágrimas, achando que estávamos perante o fim dos tempos.
Também, quando pequena, sofria por meu pai, sindicalista, que viajava muito a São Paulo. Ainda me lembro da angústia no peito, silenciada, quando o caronista passava apanhá-lo pra viajar. Eram no máximo dois dias na capital paulista, mas que me consumiam, por imaginar meu pai no cenário que eu via noticiado na TV, inundado por água, onde pessoas, animais, casas, carros, todos eram perigosamente ameaçados pela força da chuva.
O tempo, porém, passou. Não moro mais na mesma casa daquele jardim de inverno, meu pai viaja menos a São Paulo, e eu e a chuva nos damos muito bem.
Amo dormir ou acordar ao som da água pingando do pergolado, todo roxo pelas tumbérgias em flor, morando sobre a minha janela.
Também me sinto maravilhosamente bem ao ver o céu escuro, pesado, anunciando que pretende molhar as plantas, lavar as ruas.
Sobretudo, o que mais me ensinou a não ter medo de chuva, é ter descoberto que ela é passageira. Aprendi a gostar de chuva, simplesmente porque entendi sobre sua efemeridade, sobre seu fim.
Se hoje chove, sei que amanhã ou depois, o sol nascerá novamente, decididamente. E será sempre assim.

An passant...



Até hoje meu pai tem orgulho de contar: Em meu aniversário de 4 anos, me pegou no colo, me levantou à altura do mapa mundi que ficava pregado na parede do escritório de minha casa, e mostrou para a família e os amigos o que tinha me ensinado.
Ele apontava qualquer país do mapa, sem me dizer o nome do lugar e eu acertava a capital.
Pouca coisa depois, minha mãe, acumulando livros na estante de meu quarto, para que, quando alfabetizada, eu pudesse ler, despertou em mim uma curiosidade louca pela leitura. Ali, minha mãe, meus livros, eu, simplesmente nos aprendemos.
Penso nesses aprendizados, e percebo que, infelizmente, os aprendizados de hoje me tem parecido tão complexos. São excessivamente subjetivos, doídos, e tão particulares, que tenho sentido uma falta profunda de meu tempo de infância.
Me parece que hoje surgem circunstâncias de bem menos precisão. Dificilmente me pego em situações tão práticas, raramente deduzo tão bem, quase nunca é tudo tão certo e direto. Hoje não gosto tanto de geografia, a memória não é mais a mesma, minhas leituras não são mais tão prazerosas quanto Ruth Rocha.
Sabendo que não tenho chances de voltar a ser criança, tenho tentado desconstruir algumas noções sobre o objetivo, sobre o óbvio, tenho buscado ser assim, mais “an passant”.
Basílio da Gama conheceu a capital do Brasil como sendo Salvador. Meu bisavô, o Rio de Janeiro. Eu, Brasília. Quem é que vai dizer que mesmo as objetividades são assim, tão certeiras?

sábado, 14 de agosto de 2010

Canção


Ando estudando muito, demais. Na última semana tenho aprendido sobre algo que amo: a poesia, e ainda melhor, a poesia que é escrita por mulheres.
Dentre as muitas leituras, discutimos o fato de a poesia ser um tipo de canção. A poesia tem ritmo, musicalidade e deve ser lida com as pausas, as rimas, as ênfases necessárias, formando acordes e melodias que passeiam por entre as letras esculpidas pelos poetas e poetisas.
Diante do olhar sobre a melodia, sobre a canção, me lembrei de uma história que conheço há um tempo, sobre uma tribo angolana e sua distinta tradição.
Quando uma mulher está grávida, a tribo se junta na floresta e compõe, para a criança que nascerá, uma canção única. Essa canção é cantada em todas as datas importantes de sua vida: seu aniversário, seu casamento, suas conquistas.
Da mesma maneira, quando essa pessoa comete um erro, uma falta social, ou moral, talvez muito grave, a tribo se junta ao redor desta pessoa, e mais uma vez canta sua canção, como proposta de que ela se lembre de suas origens, de sua essência, de sua singularidade como membro daquele grupo de distintas pessoas.
Desde então, ando pensando nisso, em se temos nos lembrado de nossa canção, tão única, tão intrinsecamente ligada ao que nos constitui como pessoas.
As falhas são diárias, os lapsos intensos, as transgressões cotidianas, e temos encontrado poucas pessoas que nos cantam nossa canção, ao invés de, tradicionalmente, cultivar, dentro de nós, idéias sobre nosso caráter falho.
A aqueles que me tem cantado minha canção, ainda que pensem ser desafinados, descompassados, meus agradecimentos ternos, eternos. O tom não precisa ser perfeito, pode ter defeitos de naturezas variadas. Mas ela, a minha canção, tem retornado à minha história a cada minuto. Novamente, o meu muitíssimo obrigada!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

À la jabulani...


Ando achando o máximo como tenho perdido a noção do tempo. A verdade é que não sei bem se ando perdendo a noção do tempo, ou se o tempo anda enganando a mim, a todo mundo.
Parece são pensar que em quatro meses comemoraremos o Natal?
Não parece insano pensarmos que já chegamos em julho, tão esperado mês desde o início do período letivo, já desfrutamos das férias, e pior, já retornamos mais uma vez às carteiras da escola?
Neste exato segundo, tenho poucos minutos até que o dia 11 de agosto termine.
A data de hoje me lembra que há um mês atrás Espanha e Alemanha disputavam o troféu que lhes garantia o reconhecimento como os melhores esportistas de todo o mundo dentro do futebol.
Ainda me lembro do processo de preparação pra Copa do Mundo.
A começar da construção dos estádios, o Green Point, o Soccer City, espaços destinados a serem palcos das maiores emoções do mundo todo.
Depois, a convocação de nossa seleção: “Dunga não foi sábio”; “Temos o Julio César””, “Nem o Ganso?”; “Já ganhamos!”, “Não temos chance”.
As crenças e as opiniões foram mil e se misturaram formando uma torcida que se aqueceu por quatro anos para entrar com os jogadores em campo.
Mais tarde vieram os jogos, as bandeiras, os gritos, tanta jabulani em todo lugar.
Eram amigos reunidos, famílias almoçando em frente à televisão, colegas de trabalho no meio do expediente abraçados na hora do pênalti, emocionados com o chute no travessão, cabisbaixos perante a derrota do time.
Confesso que sou patriota e já estou com saudades dos tempos de Copa do Mundo. Acho que, como muita coisa que se espera ansiosamente, ela passa, e passou rápido demais.
Não vou sofrer, porém. Sei que quatro anos voarão, como há de ser.
Enquanto isso, espero pelo Natal, que ainda não acredito que, em apenas quatro meses, passará sutilmente por nós, nos colocando cara-a-cara com o carnaval, que também sumirá ainda mais rápido do que veio, trazendo outros natais, carnavais, tão desafiadores de minha noção de tempo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Moda Preocupante...!


Depois de uns dias de silêncio, atarefada entre as leituras do doutorado, as aulas da universidade, voltei, até porque, ao meu ver, seria impossível deixar de fora um acontecimento como esse que pretendo narrar, tão sensível e que conta a história de uma percepção aguçadíssima!
Já mencionei que sou vaidosa. Vario entre as mais diversas nuances de esmaltes, adoro salto alto, não fico sem acessórios, e o cabelo precisa estar sempre impecável. Agora, uma coisa que, além de tudo o que mencionei, realmente me dá prazer, é arquitetar minha maquiagem.
Compro muito, compro sempre, produtos de toda ordem. Amo rimeis, que dão volume, que alongam, que preenchem, e amo mais ainda quando encontro um que alia todos estas qualidades.
O blush também considero essencial. Uso a cor pêssego nas têmporas caso os olhos estejam mais carregados, ou o rosa caso os olhos tenham menos cor.
Me perco entre bases, pós, corretivos. Amo quando consigo convencer que quase não tenha olheiras.
E minha grande paixão: as sombras, é claro. Compro de todas as cores possíveis, e gosto de estar inserida nas tendências. Se andam usando bem carregada, abuso. Se a moda é discrição, endosso.
Acontece que nos últimos tempos, virou bonito usar sombras de cores fortes e nada discretas. Verdes, amarelas, azuis, pink, elas coloriram as pálpebras do mundo todo.
Um dia desses arrisquei e comprei a versão de cor pink destas sombras. No último domingo, ao sair em família, resolvi testar.
Amei, como havia de ser!
Me achei engenhosíssima, passando a sombra com o canto mais escurecido, e mais enfraquecido à medida que se aproximava do nariz. Com um traço fino de delineador preto bem sobre a linha dos cílios superiores, e um rímel bem trabalhado, finalizei o look.
Fiquei apaixonada pelo efeito que a sombra causou. Em poucos segundos e fascinada, me sentia completamente fashion, extremamente pink, totalmente preparada para sair.
Minutos depois, durante o jantar, percebi meu pai me olhando nos olhos.
E quando achei que algo surgiria, talvez um elogio, ou um outro comentário, sabendo também que ele nunca foi a pessoa mais observadora do mundo, percebi, na verdade, um olhar longo e preocupado.
A pergunta, aflita e inequecível, veio depois:
- Andreia! Fecha os olhos! Você está com terçol???

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sting!


Me considero uma amante incondicional da música. Tenho um amor nada velado por composições musicais de língua inglesa, que me ganham, inicialmente, pelo desafio costumeiro de traduzir a letra. Melodia e sentimentos vem logo após a etapa da tradução.
Porém exceções acontecem. Coldplay, A-ha, The Scripts, Duran Duran, e poucas outras bandas e cantores despertaram em mim um sentimento diferente.
Não penso que eu saiba descrever bem o que algumas destas canções me trazem, mas sei que sinto encher o peito e a mente de um transe maravilhoso que tenta a me abrir para a vida com uma coragem que geralmente não tenho. Parecem trazer lembranças de algo que não sei, parecem me projetar sonhos intermináveis.
E foi desde que conheci The Scripts que eu não me sentia assim.
Acontece que, hoje, deitada em minha cama, com os olhos na TV e a mente longe, mudando de canal em canal, passei pela transmissão de um show lotado de luzes amarelas. Passei e voltei. O charmoso vocalista, de voz lindíssima, me prendeu os olhos à tela, e meus ouvidos ficaram maravilhosamente colados à melodia da música de “Shape of my heart”.
Descobri que era o Sting.
Foram horas de concerto, e me surpreendi pensando em como eu não havia, ainda, prestado atenção ao Sting! O “The Police” morria enquanto eu nascia, então ouvi pouco deles, foi o que pensei...
E depois de ter ficado tanto tempo sem descobrir um som que me fizesse novamente querer me perguntar o que é que aqueles acordes tinham de tão especial, estou feliz em estar em alfa, ômega, e todas as outras letras do alfabeto grego, com a música do Sting.
Ainda não sei como funciona este fenômeno que resulta em emoção inexplicável, desperta por um aroma, por algo que se vê, por um som. Sei apenas que é bastante pessoal e muito verdadeiro. Me dá logo vontade de acordar para o dia seguinte, munida de algo que me prepara para ele.
Mas enquanto não acordo, dormirei, logicamente, ao som de Sting.
Uma ótima noite!

domingo, 1 de agosto de 2010

Públicos, privados, assíduos, visitantes, iniciantes, exigentes ou inteligentes...


É sempre maravilhoso descobrir que temos leitores. Saber que, voluntariamente, colegas antigos, novos, amigos próximos, amigos virtuais, decidem passar por nosso humilde lar digital e partilhar, por meio da leitura, daquilo que vem habitando nossos pensamentos é uma experiência muito interessante.
Geralmente entro em minha página, passo pelos meus seguidores, vejo se alguém novo resolveu me notar no meio literário-poético. Fico muito feliz se sim. Penso que mais uma pessoa anda lendo o que tenho gostado de compartilhar. Se não, penso se ando escrevendo alguma coisa sem graça demais, ou se não sei divulgar bem o meu espaço.
Agora, uma coisa que eu não tinha pensado era que, ainda que não esteja assinalado nos meus leitores, alguém pode estar anonimamente seguindo meus passos, ou, minhas letras.
Hoje um primo muito querido, desses agregados que as primas trazem para deixar nossa família mais bela, se é que tem como, me surpreendeu, me contando que anda passando por aqui. Eu não imaginava, e fiquei muito feliz. Ele não está nos seguidores, não me acompanha declaradamente, mas anda me honrando nas entrelinhas da leitura.
Vou torcer pra que eu consiga atender e agradar aos olhares curiosos que passam por aqui, lendo, relendo, concordando ou não. Aos que passam às vezes, passem mais. Aos que passam sempre, obrigada. Aos que passam anônimos, um obrigada público. Aos que passam publicamente, sou grata, obviamente.
A todos, públicos, privados, assíduos, visitantes, iniciantes, exigentes ou inteligentes, prometo estar sempre por aqui, se vocês estiverem.