quarta-feira, 23 de junho de 2010

Crimes da memória


Penso que a distância e o tempo nos pregam peças injustas e perversas. Nos separam, nos apartam, oferecendo em troca um buraco no peito que se chama saudade, lembrança apenas.
Desde pequenos, nós, primos, desfrutamos das férias na casa da avó, o local de nossas maiores descobertas e invenções.
Eram dias de infância intensa, que incluíam desde as brincadeiras mais simples até as mais aventureiras. As mais arrojadas algumas vezes resultavam em problemas. Colocar todos os primos dentro da rede do avô não poderia mesmo dar bom resultado. Transformou a rede em um grande buraco, fielmente presa aos ganchos persistentes nas paredes da garagem vazia.
Ferver as pétalas das rosas cultivadas pela avó com tanto cuidado, buscando enxergar um chá cor de rosa no fundo da caneca, certamente também exigiria uma grande dose de paciência da avó dedicada, que nunca quis provar do chá, ainda que coado.
Mas o que a distância, o tempo, que separou os primos tão queridos; trouxe a idade; as responsabilidades, não previu, é que ainda existe a possibilidade de que vivamos, com a freqüência desejada, estes períodos tão queridos. Artifícios como a memória, nos tornam, exatamente quando quisermos, crianças novamente, primos novamente, irmãos e companheiros, em nossa mente.
Estas e outras histórias em comum, abafadas pelo tempo, perduram, no coração e na memória de cada primo, tornando-nos cúmplices de crimes tão felizes e bem-sucedidos.

Um comentário:

  1. Um bom texto, Andreia. A memória é algo que infelizmente uns não privilegiam e outros não tem o privilégio de tê-la.
    Gostei do seu espaço.
    Um abraço!

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