terça-feira, 16 de março de 2010

Perdas da Língua Inglesa


Tenho pena das línguas que não dão conta de traduzir o que é a saudade. "Sentir falta" certamente não corresponde ao buraco no peito que sentimos quando dizemos que estamos com saudade de alguém.
Tenho saudade. Tenho muita, tenho sempre. De época, de gente que se foi, de gente que ficou pelo caminho, de risada quando não se podia rir.
Há uma semana o pai de minha amiga se acidentou. Escrevi algo para ela, para mim. Tive saudade dela, ela de mim, do pai, inconsciente na cama do hospital.
Depois, pensando no que escrevi, tive vontade de mostrar o texto para outro alguém que entenderia de saudade.
Pensei em meu irmão, talvez porque ele tenha escolhido voltar pra casa depois de um período longo e longe, de muita saudade, na cidade onde tempo, infância, saudade, são luxos.
Lhe entreguei o texto enquanto ele fuçava o notebook novo, sentado desajeitado no colchão estirado no chão do quarto, recurso encontrado pelos pais quando as pernas adolescentes começaram a sair fora da cama.
Depois de alguns minutos em silêncio, descolando o olhar do papel, levantou o texto, devolvendo o papel dobrado às minhas mãos estendidas e aos meus olhos, que buscavam a aprovação ou a rejeição.
Sem opinar, pediu:
- Faz um pra mim?
- Pra você?
- É, escreve sobre mim!
Entendi uma coisa: Ele gostou do texto.
Ele deve entender outra: Não sei se encontro palavras para falar dele. Penso que é como a saudade, nos Estados Unidos: Não inventaram nada ainda que traduza tanto sentimento.


Andréia Hernandes

16.03.10

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