terça-feira, 19 de janeiro de 2010


Não acho que alguém tenha interesse em me conhecer melhor, coisa que geralmente blogueiro pensa: Vou colocar umas fotos, publicar o que comi hoje, e vai dar maior ibope. Lie! Não acho, fiquem tranquilos.

Acontece que tem uma coisa na vida que amo fazer e que sinto que tem muito a ver com a criação desse espaço de discussões que a rede, felizmente, possibilita.

Em 2005 comecei a estudar a obra de uma escritora pela qual sou declaradamente apaixonada. Vivina de Assis Viana. Da iniciação científica ao doutorado, sou Vivina, e sinto que décadas de pesquisa não dariam conta de conhecer a grandeza do trabalho dessa mineira. Quem conhece mineiro sabe do jeito hospitaleiro, e, acredite ou não, a Vivina te faz se sentir em casa a cada linha que você lê. É maravilhosa...

Acho importante falar que a Vivina vai merecer muitos posts meus. Além de ela ser minha grande amiga hoje, ter colaborado ativamente para meu trabalho, ter sido quase família na minha defesa em Londrina, sinto que as palavras que ela escreve com tanto carinho só vão enriquecer meu humilde espacinho chamado de blog.


Aí vai uma crônica escrita por ela em 28 de outubro de 1990. Uma de minhas preferidas!


Você não sabia?

Meu filho mais novo gosta de costurar. Se chega perto de mim com a calça do uniforme na mão, sei que não vai me mostrar onde ela está rasgada, mas onde esteve.
Há poucos dias, entretanto, buscou socorro.
– Mãe, só você costurando pra mim. Rasgou demais no futebol da escola, olha aí.
Assentado ao meu lado, atento às idas e vindas da agulha, reconhece:
– Puxa, mãe, você costura muito melhor que eu!
– É que eu faço isso há muito tempo, filho. Estou mais treinada que você...
– Quem que te ensinou?
– Minha mãe.
– Não foi sua avó?
– Não, não foi. Sabe que nunca vi minha avó costurando?
– Você devia ser costureira, mãe. Já pensou quantas calças rasgadas você consertava num dia só? Garanto que ia ganhar muito mais dinheiro do que sendo escritora.
– Isso eu também garanto, filho.
– E tem outra coisa, mãe. Você não ficava famosa, nem morria cedo.
– De onde você tirou isso, filho?
– Você não vê na televisão, mãe? Todo dia morre gente famosa.
– As outras pessoas também morrem, filho.
– Morrem nada, mãe. Ficam aí, vivendo toda vida. Puxa, mãe, você não sabia disso?


Vivina de Assis Viana, 1990.



Um comentário:

  1. Andreia,

    você sabe - já te disse mil vezes - que me sinto muito honrada em ser "estudada" por você. Seu blog foi uma seupresa, e essa postagem também.
    Te agradeço e parabenizo. Ficou muito legal! Ah, também gosto da crônica...

    Beijo
    Vivina.

    ResponderExcluir